
Idalina de Carvalho
Contos
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DO QUASE PECADO
(poesia de anjos)
segurasse suas mãos, levasse-a quase pluma por um poema na quase madrugada do setembro recém-nascido em sublime adultério de anjos... A sedução da alma! São demais os perigos desta vida... mas anjos não pecam, são puros. Até mesmo quando, distraídos, entornam desejo (a alma tem anseios). Distraída, seria natural deixar-se levar pelas mãos. Um abraço mais envolvente, as mãos... poesia por toda parte. (A poesia sai pela boca, está dentro da boca contida, a espera do milagre que a transforme). Se, liberta de receios, abrisse em beijo a boca do poeta, consumado seria o pecado e a boca cuspiria no papel a poesia. O desejo é o poema em estado de semente.
CONTO DE FADAS EM BRANCO E PRETO
Deus não tem tempo para meninas boazinhas. A cada uma cabe o mal que lhe é devido, como o bem. A vida real: nua e crua. Sonhara seres divinos pelo caminho. Pensara-me capaz de abolir do mundo o mal. Sete bestas desenharam meu conto de fadas, vestiram-se personagens a me acalentar o sono. Sorri.
Lá fora, tempestade escoava da alma aprisionada em leito. Cinzenta. Gelada. Natureza em prantos. Assim foi que tudo desabou. Deus não teve tempo para mim. Amadureci.
AO NATURAL
Recaiu sobre si a culpa da humanidade na tarde quente daquela viagem. Sol incendiando o verde das pastagens, morros e montanhas que passavam rapidamente pela janela, deixando pra trás uma brisa assanhada em carícias, provocando volúpia, impregnando todo o ônibus com o sêmen da natureza exalado em suor, descendo por todo o corpo como rio de água salgada, uma sede sem fim de tudo que pudesse refrescar o corpo e a alma.
Passiva, rendeu-se ao cansaço, despiu-se de conceitos, cerrou os olhos e...
FINAL FELIZ (?)
Naquela noite cobriu-a de mimos. Foram palavras, sonhos em pinturas vazadas até sons denunciarem novo dia. Braços a puxá-la noite adentro e sussurros te amo, te amo, juras de nunca usar extremos da cama, ladainhas de protetor, querer vê-la feliz, de não merecer tal vida de sacrifícios. E beijos tantos, tantos, até lábios amolecerem de tanto vadiar. Um sentir a vida de dentro, intenso, amor de verdade daqueles de filmes de cinema.
Depois casaram-se.
MÃE DE FAMÍLIA
Os gritos que não que agora não e o fogo esquentando a barriga encostada no fogão e a insistência dele e a comida no fogo, hora de almoço, levar as crianças para a escola e a cozinha desarrumada, pia cheia de vasilhas e não, não e não, agora não, e ele invadindo seu espaço, umedecendo sua nuca e ouvidos ofegante em sussurros, e ela perdendo as forças, pernas estremecidas e as mãos dele afrouxando sua saia e ela sem voz em sussurros não por favor, não, o almoço, panela fritando arroz, bife na outra trempa, feijão inteiro fervendo o fogo invadindo toda a cozinha, e a mesa ali, posta, e as crianças na casa da avó tomando banho, e a comida...
... o cheiro da comida queimada, abolida de condição de ser almoço.
DO QUASE PECADO
(poesia de anjos)
segurasse suas mãos, levasse-a quase pluma por um poema na quase madrugada do setembro recém-nascido em sublime adultério de anjos... A sedução da alma! São demais os perigos desta vida... mas anjos não pecam, são puros. Até mesmo quando, distraídos, entornam desejo (a alma tem anseios). Distraída, seria natural deixar-se levar pelas mãos. Um abraço mais envolvente, as mãos... poesia por toda parte. (A poesia sai pela boca, está dentro da boca contida, a espera do milagre que a transforme). Se, liberta de receios, abrisse em beijo a boca do poeta, consumado seria o pecado e a boca cuspiria no papel a poesia. O desejo é o poema em estado de semente.
CONTO DE FADAS EM BRANCO E PRETO
Deus não tem tempo para meninas boazinhas. A cada uma cabe o mal que lhe é devido, como o bem. A vida real: nua e crua. Sonhara seres divinos pelo caminho. Pensara-me capaz de abolir do mundo o mal. Sete bestas desenharam meu conto de fadas, vestiram-se personagens a me acalentar o sono. Sorri.
Lá fora, tempestade escoava da alma aprisionada em leito. Cinzenta. Gelada. Natureza em prantos. Assim foi que tudo desabou. Deus não teve tempo para mim. Amadureci.
AO NATURAL
Recaiu sobre si a culpa da humanidade na tarde quente daquela viagem. Sol incendiando o verde das pastagens, morros e montanhas que passavam rapidamente pela janela, deixando pra trás uma brisa assanhada em carícias, provocando volúpia, impregnando todo o ônibus com o sêmen da natureza exalado em suor, descendo por todo o corpo como rio de água salgada, uma sede sem fim de tudo que pudesse refrescar o corpo e a alma.
Passiva, rendeu-se ao cansaço, despiu-se de conceitos, cerrou os olhos e...
FINAL FELIZ (?)
Naquela noite cobriu-a de mimos. Foram palavras, sonhos em pinturas vazadas até sons denunciarem novo dia. Braços a puxá-la noite adentro e sussurros te amo, te amo, juras de nunca usar extremos da cama, ladainhas de protetor, querer vê-la feliz, de não merecer tal vida de sacrifícios. E beijos tantos, tantos, até lábios amolecerem de tanto vadiar. Um sentir a vida de dentro, intenso, amor de verdade daqueles de filmes de cinema.
Depois casaram-se.
MÃE DE FAMÍLIA
Os gritos que não que agora não e o fogo esquentando a barriga encostada no fogão e a insistência dele e a comida no fogo, hora de almoço, levar as crianças para a escola e a cozinha desarrumada, pia cheia de vasilhas e não, não e não, agora não, e ele invadindo seu espaço, umedecendo sua nuca e ouvidos ofegante em sussurros, e ela perdendo as forças, pernas estremecidas e as mãos dele afrouxando sua saia e ela sem voz em sussurros não por favor, não, o almoço, panela fritando arroz, bife na outra trempa, feijão inteiro fervendo o fogo invadindo toda a cozinha, e a mesa ali, posta, e as crianças na casa da avó tomando banho, e a comida...
... o cheiro da comida queimada, abolida de condição de ser almoço.