MEANDROS

Contos

Em construção 3

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Em construção 4

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Em construção 5

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24 março 2010

LANÇAMENTO DE MEANDROS - FOTOS





Na primeira foto, Idalina ladeada pelas alunas Paty e Julyete.
Na segunda foto, com Roberto Catroli, responsável pela programação visual de MEANDROS.
Embaixo, da esquerda para a direita, o escritor Vanderlei Pequeno, o teatrólogo Carlos Sérgio Bittencourt, o poeta Ronaldo Werneck, Idalina e o professor de literatura, Diego Lucas.

LANÇAMENTO DO LIVRO MEANDROS




A chuva intensa que caiu na cidade de Cataguases na noite de 12 de março último não tirou o brilho do lançamento do livro "Meandros", que reúne poemas e minicontos sensuais de Idalina de Carvalho.

O Centro Cultural Humberto Mauro em Cataguases, recebeu nomes expressivos do meio cultural, bem como jornalistas e amigos da autora, numa ambiente aconchegante e descontraído, no evento regado à brasileiríssima cerveja gelada e um delicioso coquetel da Dona Ziroca.

Segundo a autora, o livro "Beijar, ficar e outros verbos adolescentes" disponível em seu site, poderá ser publicado ainda neste ano, se for aprovado pela Lei Municipal de Apoio à Cultura, "Ascânio Lopes".

Atualmente cursando Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora, Idalina se divide entre Cataguases e aquela cidade, onde encontra um novo contexto para as suas vivências e, como conseqüência, para as suas histórias.

Confira mais fotos sobre o lançamento no site:
http://www.primeirojornal.jor.br/

07 março 2010

LANÇAMENTO DO NOVO LIVRO "MEANDROS"


Título do livro: MEANDROS (poemas e minicontos)
Autora: Idalina de Carvalho
Número de páginas: 60

RELEASE
“Meandros” reúne a parte mais sensual da obra de Idalina de Carvalho, com poemas de um erotismo sutil, quase religioso.
Enquanto “Quase Pecado”, o primeiro livro publicado, apresentava um surrealismo pontiagudo, quase insano, este segundo livro, embora também carregado de emoções fortes, trata muito mais do prazer que do pecado.
Idalina de Carvalho escreve pouco, devido ao exagerado senso crítico, por haver exercido por tanto tempo a crítica literária enquanto editava “Pensaminto”.
Por influência do poeta concreto Joaquim Branco, criou o hábito do estilo conciso, quase mudo, de retratar a vida. Há silêncio em sua poesia.
Com a mestra Lina Tâmega, aprendeu a brincar e exercer seu domínio sobre a palavra, fazendo da emoção apenas o tempero de seus escritos.
“Dama das palavras”: é assim que vários amigos definem Idalina, pela facilidade que ela tem de transformar e fazer caber em cada palavra o sentido da própria vida.
O livro “Meandros” é dividido em duas partes: a primeira com poemas e a segunda com minicontos que, na opinião de muitos, são o ponto forte da obra de Idalina.
Abaixo, dois minicontos e dois poemas do livro MEANDROS.

SILÊNCIO

Sim
sou
sua

aquece
sacia
sossega-me o cio

suga
sorve a seiva
dessa sua serva

sobe ao céu
em sussurros
espasmos

sim
sou
sua


CANTIGA

sol com chuva
casamento de viúva

a poesia não resistiu
molhou-se feito criança
no meio da rua

sol com chuva
casamento de viúva
é tempestade de verão

sol com chuva
a viúva está molhada

sol com chuva
lua e mel

sol com chuva
arco-íris
passarela multicor
festa no céu
**********

MÃE DE FAMÍLIA

Os gritos que não que agora não e o fogo esquentando a barriga encostada no fogão e a insistência dele e a comida no fogo, hora de almoço, levar as crianças para a escola e a cozinha desarrumada, pia cheia de vasilhas e não não e não, agora não, e ele invadindo seu espaço, umedecendo sua nuca e ouvidos ofegante em sussurros, e ela perdendo as forças, pernas estremecidas e as mãos dele afrouxando sua saia e ela sem voz em sussurros não por favor não, o almoço, panela fritando arroz, bife na outra trempa, feijão inteiro fervendo, o fogo invadindo toda a cozinha e a mesa posta, e as crianças na casa da avó tomando banho, e a comida...
o cheiro da comida queimada, abolida de condição de ser almoço.


FINAL FELIZ

Naquela noite cobriu-a de mimos. Foram palavras, sonhos em pinturas vazadas até sons denunciarem novo dia. Braços a puxá-la noite adentro e sussurros te amo, te amo, juras de nunca usar extremos da cama, ladainhas de protetor, querer vê-la feliz, de não merecer tal vida de sacrifícios. E beijos tantos, tantos, até lábios amolecerem de tanto vadiar. Um sentir a vida de dentro, intenso, amor de verdade daqueles de filmes de cinema.
Depois casaram-se.



IDALINA DE CARVALHO
(alternativa e marginal)


* Entrevista publicada no www.antologiamomentoliterocultural.blogspot.com (blog do jornalista Selmo Vasconcelos, colunista do Momento lítero-cultural, de Rondônia.

1-Quais as suas outras atividades, além de escrever ?
Desde 2006 minha atenção tem estado voltada para o VENCER – Instituto de Valorização da Ética na Conduta e Relacionamentos, ong que criei e dirijo. A instituição oferece um tipo de educação especial, que é o desenvolvimento da inteligência emocional, um conceito muito novo em termos de educação, que visa alfabetizar o indivíduo emocionalmente, levando-o a se conhecer melhor e a ter uma melhor integração com o meio em que vive. O VENCER utiliza como instrumento a leitura, e mantém dois projetos nesta área, para faixas etárias diferentes: “Chá com Leitura”, para jovens e adultos; e “Faz-de-conta”, para crianças. Por trazer uma proposta inovadora, os projetos e a ong não se enquadram em propostas para captação de recursos e funciona independente, enfrentando as dificuldades comuns ao tipo de trabalho.
Também dou aulas de Redação, faço revisão em trabalhos escolares, ministro palestras em escolas, faço de tudo um pouco para me manter financeiramente, já que o trabalho na ong é voluntário.

2-Como surgiu seu interesse literário ?
Tive uma infância muito rica. Morava em um bairro pobre e as pessoas não tinham televisão em casa. Toda noite as mulheres levavam cadeiras para a frente da casa de minha mãe e ficavam contando histórias, casos de assombração, enquanto nós, as crianças, ficávamos sentadas no chão de terra vermelha, agarradas umas às outras, morrendo de medo. Na hora de dormir meu pai também contava histórias.
No gosto pela leitura fui influenciada pelo meu irmão José Luiz de Carvalho, e pela primeira professora, Wanda Kneipp. Os professores de Língua Portuguesa que tive ao longo da minha vida escolar foram um presente à parte – todos envolvidos com a arte literária.
Enfim, ler e escrever sempre me trouxeram muito prazer e, mais tarde, foi através da literatura que sobrevivi a situações de grande violência emocional.

3-Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País ?
Comecei a levar mais a sério o ato de escrever na década de 90 e, por ser muito autocrítica, acabei engavetando os primeiros livros que escrevi: “Aurora” e “Tom pastel”, ambos de crônicas. O primeiro trazia experiência adquirida ao longo da vida (escrevi quando tinha 28 anos), e o segundo era composto por textos criados na época em que trabalhei produzindo programas da Rádio Cataguases, em 1991. Mais tarde os livros foram destruídos, e também fotografias que marcavam minha atuação na área artística.
O contato com os poetas e mestres Joaquim Branco e Lina Tâmega me motivou muito, foram eles que me ofereceram a noção exata do que era produzir literatura: não se tratava de desabafo, inspiração apenas, era muito mais que isso – escrever era um ofício. E lapidar a palavra tornou-se um aprendizado que me fez ler muito mais que escrever nos anos que se seguiram..
Comecei a editar “Pensaminto” e, através dele, conheci escritores, poetas, jornalistas do Brasil e exterior, por onde circulava a publicação. Nesse período tive também poemas e textos de crítica literária publicados em vários jornais brasileiros.
Em 2001 publiquei meu primeiro livro, “Quase Pecado – poesia e prosa” e neste mês de dezembro ficou pronto o segundo, “Meandros”, que tem lançamento previsto para março próximo.

4-Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir literatura ?
A literatura, como toda arte, é a forma de expressão dos que não se adaptam à vida como ela se apresenta. A arte é a recriação da realidade, sob o comando da sensibilidade do artista. No caso específico da literatura, o cotidiano é a matéria-prima, e a palavra é instrumento. Um cotidiano insatisfatório é o grande impacto que leva o artista a se expressar, mas o complexo de ser um deus recriador da vida o leva à busca incessante de perfeição, que proporciona a qualidade do fazer literário. Assim, embora a negação da realidade seja um impacto favorável à expressão literária, o “sentir-se deus” é o que proporciona a atmosfera da produção da boa literatura.

5-Quais os escritores que você admira ?
Gosto da poesia de Fernando Pessoa, especialmente de seu heterônimo Alberto Caeiro. Gosto dos labirintos por que se enfiam os contos do Luiz Ruffato, do gosto e cheiro da poesia do José Inácio Vieira de Melo. Aprecio a construção requintada e concisa dos poemas do Edival Perrini. Poderia ainda citar Astrid Cabral, Tereza Tenório, Lina Tâmega, Márcia Carrano... tem muita literatura de qualidade circulando neste país.

6-Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas ?
Ninguém nasce pronto. Esteja, portanto, sempre atento às críticas, aprenda com elas. Leia outros poetas, estude teoria literária, conheça as técnicas da produção de poesia. Só consegue respeito no meio literário quem conhece da arte a que se propõe. Até mesmo para transgredir as regras é necessário conhecê-las.
Considere-se um aprendiz, sempre experimentando palavras na construção de sua poesia. O sucesso não deve ser objetivo, mas consequência.


FOTOGRAFIA


O que te fere os olhos
não é a nudez
que se espalha no retrato:
é a mudez
que espelha
tua fome
que desata

tua alma
a carne fere
quando é fato
o desejo
que a mata



EM CARNE E VERBO
noturnamente
suicida-me
arranca-me de mim

despida
encolho-me
enxergo-me

amanhece-me noturnamente
ressuscita-me
e me abro:
feminina-me



CAÇADA

a fêmea devora
a presa
com o olhar
voraz

a fêmea ferve
o sangue
da presa
para atacar

a fêmea penetra
o cerne do ser
que se rende
arde
queima
morre
e se refaz



IDALINA DE CARVALHO
feminina e singular


Vivi toda a infância alinhavando, junto com os tecidos da mãe costureira, as palavras-retalhos que comporiam minha história. Nascida sob o signo de capricórnio, filha caçula de Idalvino e Nitinha, tive uma infância de liberdade, sempre trepada em árvores, pés descalços, música de bichos e muita imaginação. Construía meus brinquedos: móveis de caixas de fósforos, boizinhos de melão, bonecos de batata. E lia muito: os livros eram trazidos pelo meu irmão, José Luiz de Carvalho, que, embora não tenha tido intenção clara de me incentivar a ler, através de seu amor pelos livros, acabou exercend grande influência sobre mim. Voltava correndo da escola e mergulhava em viagens através dos livros – dos permitidos e dos proibidos, que Zé Luiz escondia embaixo de seu colchão.

Os professores que tive no Colégio Cataguases só aumentaram ainda mais o gosto de ficar horas e horas mergulhada no mundo imaginário que a literatura me proporcionava. Wanda Kneipp, Márcia Carrano, Gradim, exerceram grande influência no meu gosto pela palavra.
Fui cronista de jornais, trabalhei com produção de programas da Rádio Cataguases e Rádio Solar de Juiz de Fora. Editei a Revista de Literatura e Arte PENSAMINTO, de 1995 a 2000 (com circulação internacional. Fui coordenadora municipal de cultura, professora de português e redação, criadora do VENCER – Instituto de Valorização da Ética na Conduta e Relacionamentos – instituição que promove a alfabetização emocional de crianças e jovens, objetivando a formação ética, através de uma educação diversa da oferecida pelo sistema tradicional de ensino.
Publiquei em 2001 o livro Quase Pecado – poesia e prosa. E no dia 12 deste mês de março estarei lançando meu novo livro: Meandros, uma coletânea de minicontos e poemas - em sua maioria eróticos - escritos depois da publicação do primeiro livro. Tenho também escritos a ficção juvenil “Beijar , ficar e outros verbos adolescentes”(disponível na internet), e uma série de livrinhos infantis para crianças em fase inicial de alfabetização, ainda não publicados.
Nessa minha busca incessante de conhecimento e de novas experiências, atualmente curso Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora, residindo em Cataguases apenas nos finais de semana. Saiba mais sobre mim na internet, faça a busca de seu nome no google ou visite os sites:
www.idalinadecarvalho.xpg.com.br
www.chacomleitura.blogspot.com
www.twitter.com/idalinacarvalho
http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=16563743397271571485

IDALINA DE CARVALHO POR JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO


A poesia de Idalina de Carvalho tem uma força erótica que envolve o leitor, tirando suspiros do seu silêncio."Silêncio" que se trai e sussurra sibilante: "sim / sou / sua // aquece / sacia / sossega-me o cio". O seu erotismo tem algo de religioso e atinge a dimensão do sagrado, como pode-se perceber no poema "Harmonia":

Havia céu e solidão.
Em silêncio
uma estrela
ardia orgasmo
na escuridão.
Sempre o silêncio a povoar seus mistérios, seus êxtases.

A poeta portuguesa Ana Hatherly afirma que "não há criação sem dor". Idalina parece comungar com o pensamento da experimentalista lusitana, como pode-se notar no poema "Caçada": "A fêmea penetra / o cerne do ser / que se rende / arde / queima / morre / e se refaz", mas, apesar desse arder, desse queimar, a poeta de Cataguases, tal qual fênix, está sempre a ressurgir. Na verdade, recomeçar é o seu lema.

E, impregnado de sensualidade, o "Filme erótico" de sua poética continua em cartaz:

Gemidos perdem-se
em espectros de nudez
devorados pelo espelho.

Palavras ecoam
sem compromisso de nexo.

Sexo
loucura
êxtase
relaxo.
Resta ao leitor buscar o final dessa película, ou as cenas do próximo capítulo. Que novidades trará Idalina de Carvalho?

*José Inácio Vieira de Melo é jornalista, co-editor de Iararana - revista de arte, crítica e literatura, Bahia.

24 março 2010

LANÇAMENTO DE MEANDROS - FOTOS





Na primeira foto, Idalina ladeada pelas alunas Paty e Julyete.
Na segunda foto, com Roberto Catroli, responsável pela programação visual de MEANDROS.
Embaixo, da esquerda para a direita, o escritor Vanderlei Pequeno, o teatrólogo Carlos Sérgio Bittencourt, o poeta Ronaldo Werneck, Idalina e o professor de literatura, Diego Lucas.

LANÇAMENTO DO LIVRO MEANDROS




A chuva intensa que caiu na cidade de Cataguases na noite de 12 de março último não tirou o brilho do lançamento do livro "Meandros", que reúne poemas e minicontos sensuais de Idalina de Carvalho.

O Centro Cultural Humberto Mauro em Cataguases, recebeu nomes expressivos do meio cultural, bem como jornalistas e amigos da autora, numa ambiente aconchegante e descontraído, no evento regado à brasileiríssima cerveja gelada e um delicioso coquetel da Dona Ziroca.

Segundo a autora, o livro "Beijar, ficar e outros verbos adolescentes" disponível em seu site, poderá ser publicado ainda neste ano, se for aprovado pela Lei Municipal de Apoio à Cultura, "Ascânio Lopes".

Atualmente cursando Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora, Idalina se divide entre Cataguases e aquela cidade, onde encontra um novo contexto para as suas vivências e, como conseqüência, para as suas histórias.

Confira mais fotos sobre o lançamento no site:
http://www.primeirojornal.jor.br/

07 março 2010

LANÇAMENTO DO NOVO LIVRO "MEANDROS"


Título do livro: MEANDROS (poemas e minicontos)
Autora: Idalina de Carvalho
Número de páginas: 60

RELEASE
“Meandros” reúne a parte mais sensual da obra de Idalina de Carvalho, com poemas de um erotismo sutil, quase religioso.
Enquanto “Quase Pecado”, o primeiro livro publicado, apresentava um surrealismo pontiagudo, quase insano, este segundo livro, embora também carregado de emoções fortes, trata muito mais do prazer que do pecado.
Idalina de Carvalho escreve pouco, devido ao exagerado senso crítico, por haver exercido por tanto tempo a crítica literária enquanto editava “Pensaminto”.
Por influência do poeta concreto Joaquim Branco, criou o hábito do estilo conciso, quase mudo, de retratar a vida. Há silêncio em sua poesia.
Com a mestra Lina Tâmega, aprendeu a brincar e exercer seu domínio sobre a palavra, fazendo da emoção apenas o tempero de seus escritos.
“Dama das palavras”: é assim que vários amigos definem Idalina, pela facilidade que ela tem de transformar e fazer caber em cada palavra o sentido da própria vida.
O livro “Meandros” é dividido em duas partes: a primeira com poemas e a segunda com minicontos que, na opinião de muitos, são o ponto forte da obra de Idalina.
Abaixo, dois minicontos e dois poemas do livro MEANDROS.

SILÊNCIO

Sim
sou
sua

aquece
sacia
sossega-me o cio

suga
sorve a seiva
dessa sua serva

sobe ao céu
em sussurros
espasmos

sim
sou
sua


CANTIGA

sol com chuva
casamento de viúva

a poesia não resistiu
molhou-se feito criança
no meio da rua

sol com chuva
casamento de viúva
é tempestade de verão

sol com chuva
a viúva está molhada

sol com chuva
lua e mel

sol com chuva
arco-íris
passarela multicor
festa no céu
**********

MÃE DE FAMÍLIA

Os gritos que não que agora não e o fogo esquentando a barriga encostada no fogão e a insistência dele e a comida no fogo, hora de almoço, levar as crianças para a escola e a cozinha desarrumada, pia cheia de vasilhas e não não e não, agora não, e ele invadindo seu espaço, umedecendo sua nuca e ouvidos ofegante em sussurros, e ela perdendo as forças, pernas estremecidas e as mãos dele afrouxando sua saia e ela sem voz em sussurros não por favor não, o almoço, panela fritando arroz, bife na outra trempa, feijão inteiro fervendo, o fogo invadindo toda a cozinha e a mesa posta, e as crianças na casa da avó tomando banho, e a comida...
o cheiro da comida queimada, abolida de condição de ser almoço.


FINAL FELIZ

Naquela noite cobriu-a de mimos. Foram palavras, sonhos em pinturas vazadas até sons denunciarem novo dia. Braços a puxá-la noite adentro e sussurros te amo, te amo, juras de nunca usar extremos da cama, ladainhas de protetor, querer vê-la feliz, de não merecer tal vida de sacrifícios. E beijos tantos, tantos, até lábios amolecerem de tanto vadiar. Um sentir a vida de dentro, intenso, amor de verdade daqueles de filmes de cinema.
Depois casaram-se.



IDALINA DE CARVALHO
(alternativa e marginal)


* Entrevista publicada no www.antologiamomentoliterocultural.blogspot.com (blog do jornalista Selmo Vasconcelos, colunista do Momento lítero-cultural, de Rondônia.

1-Quais as suas outras atividades, além de escrever ?
Desde 2006 minha atenção tem estado voltada para o VENCER – Instituto de Valorização da Ética na Conduta e Relacionamentos, ong que criei e dirijo. A instituição oferece um tipo de educação especial, que é o desenvolvimento da inteligência emocional, um conceito muito novo em termos de educação, que visa alfabetizar o indivíduo emocionalmente, levando-o a se conhecer melhor e a ter uma melhor integração com o meio em que vive. O VENCER utiliza como instrumento a leitura, e mantém dois projetos nesta área, para faixas etárias diferentes: “Chá com Leitura”, para jovens e adultos; e “Faz-de-conta”, para crianças. Por trazer uma proposta inovadora, os projetos e a ong não se enquadram em propostas para captação de recursos e funciona independente, enfrentando as dificuldades comuns ao tipo de trabalho.
Também dou aulas de Redação, faço revisão em trabalhos escolares, ministro palestras em escolas, faço de tudo um pouco para me manter financeiramente, já que o trabalho na ong é voluntário.

2-Como surgiu seu interesse literário ?
Tive uma infância muito rica. Morava em um bairro pobre e as pessoas não tinham televisão em casa. Toda noite as mulheres levavam cadeiras para a frente da casa de minha mãe e ficavam contando histórias, casos de assombração, enquanto nós, as crianças, ficávamos sentadas no chão de terra vermelha, agarradas umas às outras, morrendo de medo. Na hora de dormir meu pai também contava histórias.
No gosto pela leitura fui influenciada pelo meu irmão José Luiz de Carvalho, e pela primeira professora, Wanda Kneipp. Os professores de Língua Portuguesa que tive ao longo da minha vida escolar foram um presente à parte – todos envolvidos com a arte literária.
Enfim, ler e escrever sempre me trouxeram muito prazer e, mais tarde, foi através da literatura que sobrevivi a situações de grande violência emocional.

3-Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País ?
Comecei a levar mais a sério o ato de escrever na década de 90 e, por ser muito autocrítica, acabei engavetando os primeiros livros que escrevi: “Aurora” e “Tom pastel”, ambos de crônicas. O primeiro trazia experiência adquirida ao longo da vida (escrevi quando tinha 28 anos), e o segundo era composto por textos criados na época em que trabalhei produzindo programas da Rádio Cataguases, em 1991. Mais tarde os livros foram destruídos, e também fotografias que marcavam minha atuação na área artística.
O contato com os poetas e mestres Joaquim Branco e Lina Tâmega me motivou muito, foram eles que me ofereceram a noção exata do que era produzir literatura: não se tratava de desabafo, inspiração apenas, era muito mais que isso – escrever era um ofício. E lapidar a palavra tornou-se um aprendizado que me fez ler muito mais que escrever nos anos que se seguiram..
Comecei a editar “Pensaminto” e, através dele, conheci escritores, poetas, jornalistas do Brasil e exterior, por onde circulava a publicação. Nesse período tive também poemas e textos de crítica literária publicados em vários jornais brasileiros.
Em 2001 publiquei meu primeiro livro, “Quase Pecado – poesia e prosa” e neste mês de dezembro ficou pronto o segundo, “Meandros”, que tem lançamento previsto para março próximo.

4-Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir literatura ?
A literatura, como toda arte, é a forma de expressão dos que não se adaptam à vida como ela se apresenta. A arte é a recriação da realidade, sob o comando da sensibilidade do artista. No caso específico da literatura, o cotidiano é a matéria-prima, e a palavra é instrumento. Um cotidiano insatisfatório é o grande impacto que leva o artista a se expressar, mas o complexo de ser um deus recriador da vida o leva à busca incessante de perfeição, que proporciona a qualidade do fazer literário. Assim, embora a negação da realidade seja um impacto favorável à expressão literária, o “sentir-se deus” é o que proporciona a atmosfera da produção da boa literatura.

5-Quais os escritores que você admira ?
Gosto da poesia de Fernando Pessoa, especialmente de seu heterônimo Alberto Caeiro. Gosto dos labirintos por que se enfiam os contos do Luiz Ruffato, do gosto e cheiro da poesia do José Inácio Vieira de Melo. Aprecio a construção requintada e concisa dos poemas do Edival Perrini. Poderia ainda citar Astrid Cabral, Tereza Tenório, Lina Tâmega, Márcia Carrano... tem muita literatura de qualidade circulando neste país.

6-Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas ?
Ninguém nasce pronto. Esteja, portanto, sempre atento às críticas, aprenda com elas. Leia outros poetas, estude teoria literária, conheça as técnicas da produção de poesia. Só consegue respeito no meio literário quem conhece da arte a que se propõe. Até mesmo para transgredir as regras é necessário conhecê-las.
Considere-se um aprendiz, sempre experimentando palavras na construção de sua poesia. O sucesso não deve ser objetivo, mas consequência.


FOTOGRAFIA


O que te fere os olhos
não é a nudez
que se espalha no retrato:
é a mudez
que espelha
tua fome
que desata

tua alma
a carne fere
quando é fato
o desejo
que a mata



EM CARNE E VERBO
noturnamente
suicida-me
arranca-me de mim

despida
encolho-me
enxergo-me

amanhece-me noturnamente
ressuscita-me
e me abro:
feminina-me



CAÇADA

a fêmea devora
a presa
com o olhar
voraz

a fêmea ferve
o sangue
da presa
para atacar

a fêmea penetra
o cerne do ser
que se rende
arde
queima
morre
e se refaz



IDALINA DE CARVALHO
feminina e singular


Vivi toda a infância alinhavando, junto com os tecidos da mãe costureira, as palavras-retalhos que comporiam minha história. Nascida sob o signo de capricórnio, filha caçula de Idalvino e Nitinha, tive uma infância de liberdade, sempre trepada em árvores, pés descalços, música de bichos e muita imaginação. Construía meus brinquedos: móveis de caixas de fósforos, boizinhos de melão, bonecos de batata. E lia muito: os livros eram trazidos pelo meu irmão, José Luiz de Carvalho, que, embora não tenha tido intenção clara de me incentivar a ler, através de seu amor pelos livros, acabou exercend grande influência sobre mim. Voltava correndo da escola e mergulhava em viagens através dos livros – dos permitidos e dos proibidos, que Zé Luiz escondia embaixo de seu colchão.

Os professores que tive no Colégio Cataguases só aumentaram ainda mais o gosto de ficar horas e horas mergulhada no mundo imaginário que a literatura me proporcionava. Wanda Kneipp, Márcia Carrano, Gradim, exerceram grande influência no meu gosto pela palavra.
Fui cronista de jornais, trabalhei com produção de programas da Rádio Cataguases e Rádio Solar de Juiz de Fora. Editei a Revista de Literatura e Arte PENSAMINTO, de 1995 a 2000 (com circulação internacional. Fui coordenadora municipal de cultura, professora de português e redação, criadora do VENCER – Instituto de Valorização da Ética na Conduta e Relacionamentos – instituição que promove a alfabetização emocional de crianças e jovens, objetivando a formação ética, através de uma educação diversa da oferecida pelo sistema tradicional de ensino.
Publiquei em 2001 o livro Quase Pecado – poesia e prosa. E no dia 12 deste mês de março estarei lançando meu novo livro: Meandros, uma coletânea de minicontos e poemas - em sua maioria eróticos - escritos depois da publicação do primeiro livro. Tenho também escritos a ficção juvenil “Beijar , ficar e outros verbos adolescentes”(disponível na internet), e uma série de livrinhos infantis para crianças em fase inicial de alfabetização, ainda não publicados.
Nessa minha busca incessante de conhecimento e de novas experiências, atualmente curso Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora, residindo em Cataguases apenas nos finais de semana. Saiba mais sobre mim na internet, faça a busca de seu nome no google ou visite os sites:
www.idalinadecarvalho.xpg.com.br
www.chacomleitura.blogspot.com
www.twitter.com/idalinacarvalho
http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=16563743397271571485

IDALINA DE CARVALHO POR JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO


A poesia de Idalina de Carvalho tem uma força erótica que envolve o leitor, tirando suspiros do seu silêncio."Silêncio" que se trai e sussurra sibilante: "sim / sou / sua // aquece / sacia / sossega-me o cio". O seu erotismo tem algo de religioso e atinge a dimensão do sagrado, como pode-se perceber no poema "Harmonia":

Havia céu e solidão.
Em silêncio
uma estrela
ardia orgasmo
na escuridão.
Sempre o silêncio a povoar seus mistérios, seus êxtases.

A poeta portuguesa Ana Hatherly afirma que "não há criação sem dor". Idalina parece comungar com o pensamento da experimentalista lusitana, como pode-se notar no poema "Caçada": "A fêmea penetra / o cerne do ser / que se rende / arde / queima / morre / e se refaz", mas, apesar desse arder, desse queimar, a poeta de Cataguases, tal qual fênix, está sempre a ressurgir. Na verdade, recomeçar é o seu lema.

E, impregnado de sensualidade, o "Filme erótico" de sua poética continua em cartaz:

Gemidos perdem-se
em espectros de nudez
devorados pelo espelho.

Palavras ecoam
sem compromisso de nexo.

Sexo
loucura
êxtase
relaxo.
Resta ao leitor buscar o final dessa película, ou as cenas do próximo capítulo. Que novidades trará Idalina de Carvalho?

*José Inácio Vieira de Melo é jornalista, co-editor de Iararana - revista de arte, crítica e literatura, Bahia.