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Contos

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11 outubro 2010

PENSAMINTO - Revista de Literatura e Arte (edição 13)


Publicada em abril de 2000, a 13ª edição de "Pensaminto", em sua segunda fase, trouxe na capa arte de Bonin e,no miolo, um apanhado sobre a poesia em Juiz de Fora, dando enfoque especial para a poesia de Iacyr Anderson Freitas e artigo de Jorge Sanglard sobre os movimentos literários naquela cidade, com poemas de Fernando Fiorese, Júlio Polidoro, Marta Gonçalves,Eustáquio Gorgone, Gilvan P. Ribeiro, Knorr e Edimilson de Almeira Pereira. Confira flashes da revista.

SÉRIE ARTISTAS PLÁSTICOS DE CATAGUASES

BONIN

Com estilo voltado para o expressionismo abstrato, Bonin apresenta em sua obra, como característica marcante, a expressão da essência histórica contemporânea. Assim, cada traço seu traz, ainda que nas nuances mais subjetivas, pedaço de um tempo, de um fato,imagem que tenha marcado ou que venha a marcar a história.
Nascido na cidade de Leopoldina em 24 de maio de 1963, Bonin reside em Cataguases desde 1978. Pinta desde 1983, tendo realizado várias exposições individuais e mais de 20 coletivas em Cataguases, Brasília, Belo Horizonte e Juiz de Fora, entre outras cidades.
Trabalha dentro das técnicas: óleo sobre tela, guache e nanquim.


UM POETA NO CAMINHO
IACYR ANDERSON FREITAS
A poesia de Iacyr é marcada por metáforas densas, por um sentido mergulhado na complexidade da vida e da morte. Não é a melodia ou mesmo a beleza de imagens que marca o estilo deste poeta, mas os labirintos que forçam o leitor a investigar, desvendar signos, descobrir o poema com sua riqueza semântica e sofisticação literária.
Iacyr nasceu em Patrocínio do Muriaé, em 1963. É engenheiro civil por formação, também mestre em Teoria da Literatura. Entre os seus inúmeros livros publicados, Pensaminto destaca dois poemas dos livros "Lázaro" (d'lira, 1995) e "mirante" (d'lira, 1999).

SENTIDO
decerto um ritmo,
algo impeciso
em suas conchas,
saberá lembrar
o que se escreve agora,
à cilha
que o calor segreda,
mas em rusga,
sem outros liames
que o delito dessas flores,
ó pobres, ó desguarnecidas,
como o sol
de um telheiro carcomido
sob a pele.

um ritmo: decerto
muito pouco
ante o vestígio
do que aqui se espera.

eis que a hora fecha-se
nos mangues.
o sentido dorme,
a paixão procura
a morte, outra quimera.

POSFÁCIO
Abre-se um novo embate. Abre-se a musa.
Eis que o metro força o antigo engenho.
Devo encaixar o mundo numa blusa
e, pródigo, doar que eu não tenho.
Devo encontrar outrora esse soneto.
Também medir com régua cada estrofe.
Não é fácil o risco em que me meto:
há que cuidar com fé, pra que não mofe
cada palavra. Cada ponto e acento,
cada elisão contida na fuzarca
do verbo e dor e lu em que me aguento.
Não busques aqui Camões ou Petrarca.
Não eleves tamanho experimento,
pois nem essa ilusão meu verso embarca.

POETAS DE JUIZ DE FORA

A MORTE
(Júlio Polidoro)
A morte e seu cortejo

Galopa sobre mim
eu passo.

Num jardim qualquer,
o Homem
quer-se afastado deste cálice.

Que posso dizer
Que não me movo de seu movimento?

Ao seu galope
respondo, chão cicatrizado.
..........
DANAÇÃO
Fernando Fiorese

Bom mesmo
era morar num lugar
de nome bonito
- Nossa Senhora dos Remédios,
São Tomé das Letras,
Dores do Turvo -
cultivar violetas e samambaias
e fazer do itinerário dos peixes
minha música
e não
ficar polindo os ossos do mito.
..........
SEZÃO
Gilvan P. Ribeiro

No sol de capricórnio
a carne nunca é triste.
Em cada encontro
o risco sempre existe
de momentos assim
pejados de tristura.
Mas passada a pancada
a emoção futura
carrega a dor embora
e do que é triste
faz outra vez motivo
pra estar em riste.
..........
ORELHA FURADA
Edimilson de Almeida Pereira

Dançar o nome com o braço na palavra: como
em sua casa um maconde

Dançar o nome pai dos deuses que pode tudo
neste mundo e suportar o lagarto querendo ser
bispo na sombra.

Dançar o nome na miséria, estrepe e tripa que a
folha do livro é. E se entender dono das letras
em sua cozinha.

Dançar o nome com a mulher nhora dele: a
mulher no seu coração tempestade e ciranda.

Dançar o nome com o braço na palavra berço.
..........
DOAÇÃO
Marta Gonçalves

Cortaram meus ossos ao iniciar o sol
e galos vermelhos sugaram o pó.

Fiquei oca como moringa de barro.

Não havia água.
Só o choro seco do tempo perdido.
..........
POEMAS/20
Eustáquio Gorgone

Nas quatro portas da cidade
teu olhar me cerca e fixa
na íris, minha íris, tua ira.
Sinto os arcos emparelhados,
primavera e inverno retidos,
o céu estrangeiro e branco.
Não posso antecipar as horas,
reter os vestígios do outono,
o canto das pedras e pássaros.

Irrigado por rios secos,
volto ao plantio do pó.


"Pensaminto",revista de Literatura e Arte, foi editada, de 1995 a 2000 por Idalina de Carvalho, em Cataguases (MG), e distribuída no Brasil e exterior.

09 outubro 2010

PENSAMINTO 12 - segunda fase



Publicado em março de 2000, a edição número 12 trouxe na capa a artista plástica Nanzita, em desenho feito exclusivamente para PENSAMINTO. Nanzita, nascida em Cataguases, começou a pintar em 1940, estudando com os mestres Ian Zack, Abelardo Zaluar e Frank Schaeffer. Idealizadora e criadora da "Gal Art" (Centro de Arte e Cultura de Cataguases), Nanzita expôs individualmente e em coletivas por todo o país e em várias cidades do Japão.

O que marca, sobretudo, o seu nome na história de Cataguases são os murais pintados por ela nas igrejas da cidade. Baseada no livro "Paixão de Cristosegundo o Cirurgião", de Pierre Barbet, Nanzita retratou a agonia de Cristo sob uma ótica vanguardista, marcadamente pelas cores que levam o público a meditar sobre a própria vida: Nas paredes do Santuário Santa Rita de Cássia, a artista deixou registrado seu estilo em "Via Sacra". Pintou ainda, sob o tema "São Francisco de Assis", mural na Capela da Fazenda do Rochedo, no distrito do Glória de Cataguases. E, na Igreja do Rosario, o mural pintado por Nanzita próximo à pia batismal, retrata os apóstolos numa interpretação bíblica original sobre a "Ressurreição de Cristo o batismo".


UM POETA NO CAMINHO
JOANYR DE OLIVEIRA

DOno de uma poesia de formação clássica, densa, sutil, de linguagem limpa é precisa. Joanyr é um poeta que domina perfeitamente a essência lírica, retratando, a um mesmo tempo, simplicidade, bom gosto extremo e beleza. Quem lê seus poemas, mergulha no mais profundo da alma humana. E sai leve, banhado pela beleza de "cascos que cavam-me os olhos", "casulos de silêncio que recolhem meu rosto", envolvido pelo "ninho: mão sem fadigas a colher a vida". Como disse Marcos Konder Reis: "Sua poesia dá a sensação (rara) e coisa acabada, onde se disse (bem) tudo">

Mineiro de Aimorés, Joanyr passou a residir em Brasília em 1960. Autor de mais de uma dúzia de livro de poesia e participante de coletâneas publicadas no Brasil e exterior, ganhou mais de trinta prêmios literários. Abaixo, dois poemas do seu livro "Pluricanto - trinta anos de poesia".

NO METRÔ DE PARIS
(A Íris Miglio)

A anular o silêncio,
no metrô em Paris,
dez dedos de ouro
destilaram canções.
Sobre as rodas monótonas,
idiomas revezaram-se
na celebração do amor.

Subitamente as cordas
acolitaram estrofe
ledas verde-amarelas
nos lábios suspensos:
eram Tom e Vinícius
como taças no ar...

Um sorriso se impôs
a abarcar todo o Rio
no outro lado do mar.
........................

EPITÁFIO

Os casulos do silêncio
recolhem meu rosto,
meu canto e meu nome.

Entre arcanjos e estrelas,
minha essência navega
o esplendor dos milênios.

Doce é o saber do infinito.

11 outubro 2010

PENSAMINTO - Revista de Literatura e Arte (edição 13)


Publicada em abril de 2000, a 13ª edição de "Pensaminto", em sua segunda fase, trouxe na capa arte de Bonin e,no miolo, um apanhado sobre a poesia em Juiz de Fora, dando enfoque especial para a poesia de Iacyr Anderson Freitas e artigo de Jorge Sanglard sobre os movimentos literários naquela cidade, com poemas de Fernando Fiorese, Júlio Polidoro, Marta Gonçalves,Eustáquio Gorgone, Gilvan P. Ribeiro, Knorr e Edimilson de Almeira Pereira. Confira flashes da revista.

SÉRIE ARTISTAS PLÁSTICOS DE CATAGUASES

BONIN

Com estilo voltado para o expressionismo abstrato, Bonin apresenta em sua obra, como característica marcante, a expressão da essência histórica contemporânea. Assim, cada traço seu traz, ainda que nas nuances mais subjetivas, pedaço de um tempo, de um fato,imagem que tenha marcado ou que venha a marcar a história.
Nascido na cidade de Leopoldina em 24 de maio de 1963, Bonin reside em Cataguases desde 1978. Pinta desde 1983, tendo realizado várias exposições individuais e mais de 20 coletivas em Cataguases, Brasília, Belo Horizonte e Juiz de Fora, entre outras cidades.
Trabalha dentro das técnicas: óleo sobre tela, guache e nanquim.


UM POETA NO CAMINHO
IACYR ANDERSON FREITAS
A poesia de Iacyr é marcada por metáforas densas, por um sentido mergulhado na complexidade da vida e da morte. Não é a melodia ou mesmo a beleza de imagens que marca o estilo deste poeta, mas os labirintos que forçam o leitor a investigar, desvendar signos, descobrir o poema com sua riqueza semântica e sofisticação literária.
Iacyr nasceu em Patrocínio do Muriaé, em 1963. É engenheiro civil por formação, também mestre em Teoria da Literatura. Entre os seus inúmeros livros publicados, Pensaminto destaca dois poemas dos livros "Lázaro" (d'lira, 1995) e "mirante" (d'lira, 1999).

SENTIDO
decerto um ritmo,
algo impeciso
em suas conchas,
saberá lembrar
o que se escreve agora,
à cilha
que o calor segreda,
mas em rusga,
sem outros liames
que o delito dessas flores,
ó pobres, ó desguarnecidas,
como o sol
de um telheiro carcomido
sob a pele.

um ritmo: decerto
muito pouco
ante o vestígio
do que aqui se espera.

eis que a hora fecha-se
nos mangues.
o sentido dorme,
a paixão procura
a morte, outra quimera.

POSFÁCIO
Abre-se um novo embate. Abre-se a musa.
Eis que o metro força o antigo engenho.
Devo encaixar o mundo numa blusa
e, pródigo, doar que eu não tenho.
Devo encontrar outrora esse soneto.
Também medir com régua cada estrofe.
Não é fácil o risco em que me meto:
há que cuidar com fé, pra que não mofe
cada palavra. Cada ponto e acento,
cada elisão contida na fuzarca
do verbo e dor e lu em que me aguento.
Não busques aqui Camões ou Petrarca.
Não eleves tamanho experimento,
pois nem essa ilusão meu verso embarca.

POETAS DE JUIZ DE FORA

A MORTE
(Júlio Polidoro)
A morte e seu cortejo

Galopa sobre mim
eu passo.

Num jardim qualquer,
o Homem
quer-se afastado deste cálice.

Que posso dizer
Que não me movo de seu movimento?

Ao seu galope
respondo, chão cicatrizado.
..........
DANAÇÃO
Fernando Fiorese

Bom mesmo
era morar num lugar
de nome bonito
- Nossa Senhora dos Remédios,
São Tomé das Letras,
Dores do Turvo -
cultivar violetas e samambaias
e fazer do itinerário dos peixes
minha música
e não
ficar polindo os ossos do mito.
..........
SEZÃO
Gilvan P. Ribeiro

No sol de capricórnio
a carne nunca é triste.
Em cada encontro
o risco sempre existe
de momentos assim
pejados de tristura.
Mas passada a pancada
a emoção futura
carrega a dor embora
e do que é triste
faz outra vez motivo
pra estar em riste.
..........
ORELHA FURADA
Edimilson de Almeida Pereira

Dançar o nome com o braço na palavra: como
em sua casa um maconde

Dançar o nome pai dos deuses que pode tudo
neste mundo e suportar o lagarto querendo ser
bispo na sombra.

Dançar o nome na miséria, estrepe e tripa que a
folha do livro é. E se entender dono das letras
em sua cozinha.

Dançar o nome com a mulher nhora dele: a
mulher no seu coração tempestade e ciranda.

Dançar o nome com o braço na palavra berço.
..........
DOAÇÃO
Marta Gonçalves

Cortaram meus ossos ao iniciar o sol
e galos vermelhos sugaram o pó.

Fiquei oca como moringa de barro.

Não havia água.
Só o choro seco do tempo perdido.
..........
POEMAS/20
Eustáquio Gorgone

Nas quatro portas da cidade
teu olhar me cerca e fixa
na íris, minha íris, tua ira.
Sinto os arcos emparelhados,
primavera e inverno retidos,
o céu estrangeiro e branco.
Não posso antecipar as horas,
reter os vestígios do outono,
o canto das pedras e pássaros.

Irrigado por rios secos,
volto ao plantio do pó.


"Pensaminto",revista de Literatura e Arte, foi editada, de 1995 a 2000 por Idalina de Carvalho, em Cataguases (MG), e distribuída no Brasil e exterior.

09 outubro 2010

PENSAMINTO 12 - segunda fase



Publicado em março de 2000, a edição número 12 trouxe na capa a artista plástica Nanzita, em desenho feito exclusivamente para PENSAMINTO. Nanzita, nascida em Cataguases, começou a pintar em 1940, estudando com os mestres Ian Zack, Abelardo Zaluar e Frank Schaeffer. Idealizadora e criadora da "Gal Art" (Centro de Arte e Cultura de Cataguases), Nanzita expôs individualmente e em coletivas por todo o país e em várias cidades do Japão.

O que marca, sobretudo, o seu nome na história de Cataguases são os murais pintados por ela nas igrejas da cidade. Baseada no livro "Paixão de Cristosegundo o Cirurgião", de Pierre Barbet, Nanzita retratou a agonia de Cristo sob uma ótica vanguardista, marcadamente pelas cores que levam o público a meditar sobre a própria vida: Nas paredes do Santuário Santa Rita de Cássia, a artista deixou registrado seu estilo em "Via Sacra". Pintou ainda, sob o tema "São Francisco de Assis", mural na Capela da Fazenda do Rochedo, no distrito do Glória de Cataguases. E, na Igreja do Rosario, o mural pintado por Nanzita próximo à pia batismal, retrata os apóstolos numa interpretação bíblica original sobre a "Ressurreição de Cristo o batismo".


UM POETA NO CAMINHO
JOANYR DE OLIVEIRA

DOno de uma poesia de formação clássica, densa, sutil, de linguagem limpa é precisa. Joanyr é um poeta que domina perfeitamente a essência lírica, retratando, a um mesmo tempo, simplicidade, bom gosto extremo e beleza. Quem lê seus poemas, mergulha no mais profundo da alma humana. E sai leve, banhado pela beleza de "cascos que cavam-me os olhos", "casulos de silêncio que recolhem meu rosto", envolvido pelo "ninho: mão sem fadigas a colher a vida". Como disse Marcos Konder Reis: "Sua poesia dá a sensação (rara) e coisa acabada, onde se disse (bem) tudo">

Mineiro de Aimorés, Joanyr passou a residir em Brasília em 1960. Autor de mais de uma dúzia de livro de poesia e participante de coletâneas publicadas no Brasil e exterior, ganhou mais de trinta prêmios literários. Abaixo, dois poemas do seu livro "Pluricanto - trinta anos de poesia".

NO METRÔ DE PARIS
(A Íris Miglio)

A anular o silêncio,
no metrô em Paris,
dez dedos de ouro
destilaram canções.
Sobre as rodas monótonas,
idiomas revezaram-se
na celebração do amor.

Subitamente as cordas
acolitaram estrofe
ledas verde-amarelas
nos lábios suspensos:
eram Tom e Vinícius
como taças no ar...

Um sorriso se impôs
a abarcar todo o Rio
no outro lado do mar.
........................

EPITÁFIO

Os casulos do silêncio
recolhem meu rosto,
meu canto e meu nome.

Entre arcanjos e estrelas,
minha essência navega
o esplendor dos milênios.

Doce é o saber do infinito.