Publicada em abril de 2000, a 13ª edição de "Pensaminto", em sua segunda fase, trouxe na capa arte de Bonin e,no miolo, um apanhado sobre a poesia em Juiz de Fora, dando enfoque especial para a poesia de Iacyr Anderson Freitas e artigo de Jorge Sanglard sobre os movimentos literários naquela cidade, com poemas de Fernando Fiorese, Júlio Polidoro, Marta Gonçalves,Eustáquio Gorgone, Gilvan P. Ribeiro, Knorr e Edimilson de Almeira Pereira. Confira flashes da revista.
SÉRIE ARTISTAS PLÁSTICOS DE CATAGUASES
BONIN
Com estilo voltado para o expressionismo abstrato, Bonin apresenta em sua obra, como característica marcante, a expressão da essência histórica contemporânea. Assim, cada traço seu traz, ainda que nas nuances mais subjetivas, pedaço de um tempo, de um fato,imagem que tenha marcado ou que venha a marcar a história.
Nascido na cidade de Leopoldina em 24 de maio de 1963, Bonin reside em Cataguases desde 1978. Pinta desde 1983, tendo realizado várias exposições individuais e mais de 20 coletivas em Cataguases, Brasília, Belo Horizonte e Juiz de Fora, entre outras cidades.
Trabalha dentro das técnicas: óleo sobre tela, guache e nanquim.
UM POETA NO CAMINHO
IACYR ANDERSON FREITAS
A poesia de Iacyr é marcada por metáforas densas, por um sentido mergulhado na complexidade da vida e da morte. Não é a melodia ou mesmo a beleza de imagens que marca o estilo deste poeta, mas os labirintos que forçam o leitor a investigar, desvendar signos, descobrir o poema com sua riqueza semântica e sofisticação literária.
Iacyr nasceu em Patrocínio do Muriaé, em 1963. É engenheiro civil por formação, também mestre em Teoria da Literatura. Entre os seus inúmeros livros publicados, Pensaminto destaca dois poemas dos livros "Lázaro" (d'lira, 1995) e "mirante" (d'lira, 1999).
SENTIDO
decerto um ritmo,
algo impeciso
em suas conchas,
saberá lembrar
o que se escreve agora,
à cilha
que o calor segreda,
mas em rusga,
sem outros liames
que o delito dessas flores,
ó pobres, ó desguarnecidas,
como o sol
de um telheiro carcomido
sob a pele.
um ritmo: decerto
muito pouco
ante o vestígio
do que aqui se espera.
eis que a hora fecha-se
nos mangues.
o sentido dorme,
a paixão procura
a morte, outra quimera.
POSFÁCIO
Abre-se um novo embate. Abre-se a musa.
Eis que o metro força o antigo engenho.
Devo encaixar o mundo numa blusa
e, pródigo, doar que eu não tenho.
Devo encontrar outrora esse soneto.
Também medir com régua cada estrofe.
Não é fácil o risco em que me meto:
há que cuidar com fé, pra que não mofe
cada palavra. Cada ponto e acento,
cada elisão contida na fuzarca
do verbo e dor e lu em que me aguento.
Não busques aqui Camões ou Petrarca.
Não eleves tamanho experimento,
pois nem essa ilusão meu verso embarca.
POETAS DE JUIZ DE FORA
A MORTE
(Júlio Polidoro)
A morte e seu cortejo
Galopa sobre mim
eu passo.
Num jardim qualquer,
o Homem
quer-se afastado deste cálice.
Que posso dizer
Que não me movo de seu movimento?
Ao seu galope
respondo, chão cicatrizado.
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DANAÇÃO
Fernando Fiorese
Bom mesmo
era morar num lugar
de nome bonito
- Nossa Senhora dos Remédios,
São Tomé das Letras,
Dores do Turvo -
cultivar violetas e samambaias
e fazer do itinerário dos peixes
minha música
e não
ficar polindo os ossos do mito.
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SEZÃO
Gilvan P. Ribeiro
No sol de capricórnio
a carne nunca é triste.
Em cada encontro
o risco sempre existe
de momentos assim
pejados de tristura.
Mas passada a pancada
a emoção futura
carrega a dor embora
e do que é triste
faz outra vez motivo
pra estar em riste.
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ORELHA FURADA
Edimilson de Almeida Pereira
Dançar o nome com o braço na palavra: como
em sua casa um maconde
Dançar o nome pai dos deuses que pode tudo
neste mundo e suportar o lagarto querendo ser
bispo na sombra.
Dançar o nome na miséria, estrepe e tripa que a
folha do livro é. E se entender dono das letras
em sua cozinha.
Dançar o nome com a mulher nhora dele: a
mulher no seu coração tempestade e ciranda.
Dançar o nome com o braço na palavra berço.
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DOAÇÃO
Marta Gonçalves
Cortaram meus ossos ao iniciar o sol
e galos vermelhos sugaram o pó.
Fiquei oca como moringa de barro.
Não havia água.
Só o choro seco do tempo perdido.
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POEMAS/20
Eustáquio Gorgone
Nas quatro portas da cidade
teu olhar me cerca e fixa
na íris, minha íris, tua ira.
Sinto os arcos emparelhados,
primavera e inverno retidos,
o céu estrangeiro e branco.
Não posso antecipar as horas,
reter os vestígios do outono,
o canto das pedras e pássaros.
Irrigado por rios secos,
volto ao plantio do pó.
"Pensaminto",revista de Literatura e Arte, foi editada, de 1995 a 2000 por Idalina de Carvalho, em Cataguases (MG), e distribuída no Brasil e exterior.